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Refúgio pernambucano na França.

Refúgio pernambucano na França  Cofundador de organização para acolhimento de refugiados, o olindense Nathanael Molle, 29, foi apontado pela Forbes como um dos 30 empreendedores sociais com menos de 30 anos que fazem a diferença na Europa e no mundo.
Anamaria Nascimento (texto)

França, 2012. Três anos antes de a Europa (e o resto do mundo) enfrentar uma das maiores crises de refugiados da história, um pernambucano fundou, em Paris, uma ONG que ajuda imigrantes a se inserirem no mercado de trabalho. O trabalho inovador levou Nathanael Molle, 29 anos, a ser eleito pela revista Forbes como um dos 30 empreendedores sociais com menos de 30 anos que fazem a diferença na Europa e no mundo.
A lista, divulgada em janeiro, traz nomes conhecidos, como o de Malala Yousafzai, nobel da Paz defensora do direito de meninas e mulheres à educação.
Aos 15 anos, Nathanael liderou o primeiro projeto social, trabalhando com mulheres presas no Sri Lanka, país asiático onde 4,7% da população carcerária é feminina (no Brasil, a proporção é de 6,4%).
Arrebatado pela experiência, o adolescente nascido em Olinda decidiu que trabalharia com minorias e projetou fundar uma ONG quando tivesse 50 anos.
O sonho se tornou realidade muito antes. Tinha 25 anos e morava na França quando criou a primeira organização social do mundo voltada a ajudar refugiados a abrirem pequenas empresas nos países onde se instalaram. Recém-formado pelo Instituto de Estudos em Relações Internacionais, juntou-se a um colega de turma para fundar a Singa, empresa social sediada em Paris, presente hoje em cinco países.
Antes disso, trabalhou na Organização Marroquina de Direitos Humanos. “Vivi experiências diferentes daquelas que os estudantes de relações internacionais tinham na universidade. Foi o que me ajudou a criar a Singa.” Apenas Nathanael e o colega trabalhavam na organização no primeiro ano de funcionamento.
Hoje, são 600 voluntários e 27 funcionários.
A ONG criada pelo menino de Rio Doce funciona como um modelo que pode ser reproduzido em outros países.
O formato é replicado atualmente no Marrocos, Alemanha, Canadá e Austrália. “Queremos chegar também aos Estados Unidos, Bélgica, Hungria e, claro, no Brasil. Nosso país é referência internacional em acolhimento de refugiados, apesar de só abrigar 7 mil deles.” Na França, esse número é maior, mas a abertura a estrangeiros tem sido cada vez menor.
O país se comprometeu a receber 30 mil refugiados. Não mais que isso. “Nós não podemos dizer ou aceitar que todos esses refugiados podem ser bem-vindos na Europa”, declarou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, em entrevista à rede BBC em janeiro. Em tempos da maior onda migratória no continente desde 1945 e depois dos brutais atentados de Paris, os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade foram arranhados pela xenofobia. “(A França) sempre se considerou o berço dos direitos humanos, com menção ao acolhimento de perseguidos na Constituição Francesa. Por outro lado, sempre teve uma política fechada.” Esse “estranhamento” entre franceses e refugiados, segundo o pernambucano que vive no país desde a adolescência, é causado por um afastamento histórico que ocorreu entre eles. “Até o início dos anos 1980, os refugiados eram recebidos como heróis na França. Muitos eram da América Latina e fugiam das ditaduras em seus países. Hoje, tenho contato com um refugiado que vive no país há 5 anos e não conhece um só francês, exceto aqueles pagos para alguma prestação de serviço. Isso é um grande problema.” A organização criada por ele trabalha justamente para unir esses polos. “A Singa foi a primeira organização que pensou além da questão humanitária. Pensamos o futuro dessas pessoas, ou seja, temos foco no longo prazo.
Diante desse cenário, tentamos mudar a visão dos franceses sobre quem vem de fora porque, hoje, os franceses não conhecem os refugiados e os refugiados não conhecem os franceses.” Cursos de idiomas, imersões na cultura local, shows e promoção de encontros são algumas das atividades realizadas pela ONG. Apesar de reconhecer os impasses gerados internamente na Europa, Nathanael não vê crise e acredita que os governos europeus usam o boom na migração para esconder os reais problemas do continente. “O problema na Europa não é o número de refugiados, mas como esse tema é visto politicamente. O número não é importante.
Se você comparar o número de refugiados sírios que chegaram à Europa versus a população dos países, é muito pouco. É menos de 1%. O continente tem condições de acolher essas pessoas. Muito bem, aliás.” Com a fala mansa e posição firme, o pernambucano segue fazendo história. Na Europa. E por aqui.

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